A cada aumento de 1% no total de armas disponíveis, sobe em 2% o número de homicídios. Os dados são da tese de doutorado do pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Daniel Cerqueira.
O estudo comprova que o maior acesso a armas cria as condições necessárias para o crescimento no número de crimes interpessoais. De outro lado, crimes contra o patrimônio, como o roubo de veículos, não teriam relação direta com o acesso a armas.
O pesquisador afirma que a proposta de novo plebiscito sobre a venda de armas é um equívoco e que a prioridade seria aprimorar o Estatuto do Desarmamento.
Veja trechos da entrevista:
Em que medida o aumento de armas contribui para a alta na criminalidade?
Daniel Cerqueira - Realizamos um estudo que mostra que 1% a mais de armas significa um aumento de 2% no total de homicídios. De outro lado, verificamos que a retirada de armas não produz efeito sobre os crimes contra o patrimônio, perpetrados por bandidos profissionais.
O que causa essa diferença?
Os crimes interpessoais envolvem conflito, discussão ou questões passionais, e a posse de armas pode fazer diferença.
O massacre de Realengo trouxe de volta as discussões sobre o desarmamento. Como o senhor avalia a discussão?
Nos países desenvolvidos, as discussões sobre políticas públicas são feitas baseadas em argumentos racionais. Levam em conta trabalhos científicos e a mensuração dos resultados em programas para a redução de homicídios. Aqui a discussão é basicamente reativa e emocional. Após uma tragédia, aparecem ideias brilhantes, sem comprovação.
Como o sr. vê a proposta do Ministério da Justiça de instalar chips para rastrear armas?
Se há interesse efetivo da sociedade em controlar armas, isso seria possível com ou sem chip, mas aparentemente a disposição não é tão grande. É bom uma nova tecnologia, mas é acessório.
Como o sr. analisa o resultado do referendo de 2005?
O referendo colocou em pauta dois direitos: a liberdade individual e a segurança pública. A discussão foi totalmente equivocada.
De um lado, as pessoas a favor da arma de fogo diziam: "Ah, você vai desarmar o pai de família e deixar o bandido armado". Do outro, diziam: "Temos de banir as armas porque queremos paz". Os dois se limitaram ao aspecto emotivo, sem promover uma discussão sobre os custos destes direitos.
O mais importante foi o Estatuto do Desarmamento, mas precisa ser aprimorado.
Como o sr. vê a proposta de uma nova consulta?
É um equívoco. Há seis anos a maioria já decidiu que é a favor da venda de armas. De certa forma, isso é querer desrespeitar o resultado anterior. Vamos gastar tempo e energia nisso, em vez de melhorar o Estatuto do Desarmamento.
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